06 August 2007

As Azaléias.
No Jardim da minha casa têm 4 azaléias plantadas, uma ao lado da outra. São 3 cor-de-rosa e 1 branca. Elas sempre conversa entre si, brincam, riem e se divertem com os pássaros que por ali passam, com as aranhas que de tempos em tempos teimam em tecer suas moradas por suas folhas e galhos, ou até com a minha gatinha que sempre se deita ao pé de uma delas e depois volta para dentro com algumas folhas secas grudadas no pelo. A primeira, bem do canto, é a que julgo mais velha e mais imperativa. Ela sempre faz alguns galhos crescerem mais altos de todos. Ela é a mais alta e a mais larga, por culpa disso, ela fica praticamente siamesa da irmã ao lado. Seus galhos são tão misturados que um mal observador pensaria que se trataria apenas de uma planta. Mas na base, é possível ver os 2 ramos de caules saindo do chão. Esta segunda é a mais desatenta de todas, percebe mais os acontecimentos pela influência das outras, por ela sozinha, nem iria ver a grama crescer. Acredito que por isso que a maioria das aranhas se acomodam na parte que lhe cabe do jardim. Logo ao lado desta está a branca, é a mais nova de todas. Como criança sossegada, acha graça em tudo que lhe aparece, sorri inocente vendo os pássaros e as rosas que tentam se pendurar umas nas outras p/ desabrochar. A última, a da ponta é a eterna adolescente. Esta gosta de se por bela, gosta de aparecer. De vez em quando, tenta por seus galhos mais altos do que a primeira, mas quando a competição começa a incomodar os sapos e as tartarugas de gesso, eu vou lá e podo todas no mesmo tamanho.
Nesses últimos tempos o clima se bagunçou entre elas. Com o calor feito no princípio de julho, a vaidosa correu se enfeitar de botões. A branca achou legal e quis fazer nascerem alguns seus. Até a mais desligada começou a pintar algumas pontas de galhos com cor-de-rosa. Apenas a mais velha resiste. Dizia às outras: Estão fora do juízo? O inverno ainda não se deu por encerrado. O frio virá novamente e vos queimarão as pétalas. Depois não haverão flores para a primavera. A vaidosa disse que não importava, o importante era o momento. Aquele era o momento que a natureza nos chamava a florecer. A branca ficou com medo de princípio, mas já havia dado início na produção de flores e não pôde mais cancelar. A desligada nem percebeu quando suas flores começaram a queimar com as semanas de frio que seguiram depois da falsa primavera. A mais velha disse vitoriosa: Eu não vos avisei? A branca entrou em leve desespero mas se sussegou quando a vaidosa disse: Que queimem, não ligo, depois farei nascerem mais. Sou jovem e forte para isso. A desligada então perguntou à mais velha como sabia que o inverno ainda proseguiria e ela lhe respondeu: O calendário, oras. Que calendário? Tu não vistes pois está sempre a perder-se no pensamento, pois foi nestes dias que uma folha de calendário de passou por aqui, num desses domingos ventosos que enchem esse quintal de lixo e outras cousas que as pessoas largam por aí. Eu perguntei se fazia muito que haviam arrancado-na das demais e ela me respondeu que não, que ainda agora temos mais de um mês antes da primavera se anunciar. A branca estremeceu: Mas os pássaros já estavam cantando. Que pássaros, o quê. Retrucou a mais velha. Os pássaros sempre cantam sabe-se lá por quê, cantam sem motivos, cantam por cantar. A vaidosa disse enfim: Pois eu prefiro que me sequem as raízes do que perder a oportunidade de fazer florir a mais das lindas flores.
Hoje pela manhã, o sapatinnho de princesa, a comigo-ninguém-pode e as espadas de são jorge vieram me reclamar a bagunça. Não se poda plantas na época das flores, respondi. Mas não é época!!!! Brandou a mais velha. Ok, ok!! e humildemente me retirei para o trabalho....